quinta-feira, 11 de março de 2021

Sintomas de uma Febre Existencial

Acordei inebriada. Pensamentos recheados de algodões, afofando a cabeça. Piscar dos olhos lentificados. Suspensão em se sentir e ver. Levantei em passos letárgicos. Meus pés não se acostumaram ao chão. Uma espécie de dormência envolvia meu corpo. Como se o externo me prensasse vagarosamente. Me sentia em um mergulho. Ouvidos semi tampados. Onde mais se desce. Mais pressão. Pressão homeopática. Dá para respirar mesmo que ainda se precise de fôlego. Em passos estranhos cheguei ao banheiro. Me perdi até entender o que de fato fui fazer ali. Ah sim. Urinar. Sei lá. Deve ser. Sentei- me ao vaso, e esperei ver se de fato era isso. Um mínimo fio de urina saiu. Bom, então não era isso. Me enxuguei. Dei descarga. Me levantei. Lavei as mãos. E pensei: deve ser sede ... Voltei ao quarto em passos tortos ainda, mas um pouco mais estruturados. Peguei a garrafa de água, quase vazia, e depositei todo o resto no copo. O copo encheu pela metade. Bebi. Me deu frio. Me arrepiei. Tomei mais um gole. Me arrepiei mais ainda. Corri para me deitar novamente. Uma sensação de quem precisa se deitar e se aquecer. . . Me encolhi. No casulo dos lençóis. Me sentindo um feto. Pensando por que diabos levantei. . . Úrsula C.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Geração do silêncio

Foram oito anos longe daqui. Embora em papéis picados, guardanapos aleatórios e alguns cadernos misturados ainda houvesse inúmeros registros. Sentar aqui novamente é como reencontrar um velho amigo e não saber exatamente como começar a conversa.E talvez a forma mais prática de começar seja pelo passado. Ou de onde tudo parou. Voltei a ler algumas lembranças que essa plataforma diabolicamente incrível proporciona, chamada Facebook. E nessas lembranças me assustei. Me assustei porque era exatamente eu mesma, eu mesma de agora, que poderia ter escrito aquilo. E que de alguma forma eu não tinha maturidade ou sequer experiência de contato, de amor, de decepção ou das mais dolorosas vertentes de um ser humano. E como numa espécie de premonição eu sempre escrevi, aquilo que hoje eu escreveria também. Com a única diferença: há oito anos atrás eu deduzia. Hoje, eu sei. Foram anos conturbados, a ponto de eu finalmente me aceitar como uma pessoa conturbada. Eu me formei em jornalismo, namorei por muito tempo e sofri a ponto de achar que a vida tinha me confundido com um saco de pancadas. Foram cerca de dez a quinze mil instabilidades, alegrias seguidas de tristeza, porres e risadas, porres e sentimento vazio, medo, amor e caos. Hoje, faço mais uma faculdade: Psicologia Carrego em mim essa não compreensão de que todos tem que ser iguais. Todos tem que ter uma mesma vida, baseada em normas e leis que Igrejas aplicaram há muito tempo atrás. É difícil pra mim ser aceita até hoje. Assim como é difícil eu perceber que eu não sou tão aceita como eu gostaria. Meus hábitos são colocados como preguiça. Minha liberdade como irresponsabilidade. Minhas ideias como sem cabimento e meus partidos como de oposição. O que eu tenho lido é que somos a geração dos acomodados. Daqueles que não correm atrás. E não é isso que eu vejo. As minhas duas faculdades eram repletas de alunos. Alunos incríveis, que hoje fazem brownie pra vender para novos alunos da mesma faculdade que se formaram há 5 anos atrás. De 20 pessoas que se formaram comigo, 3 trabalham como jornalistas. O resto teve que se virar fazendo qualquer outra coisa. Mas o mais importante, coisa que um acomodado não faz. Hoje mediante a esse péssimo mercado de trabalho, onde engenheiro com pós graduação vira uber, e advogado faz bico no natal em lojas de shopping, é horrível ter que ler que somos "a geração dos que não correm atrás". A gente é a geração do nada. A política é uma bosta, as pessoas estão cada vez mais estranhas, as faculdades estão lotadas, as empresas só colocam conhecidos, as salas de pré concurso estão infestadas de pessoas frustradas com contas pra pagar, filho pra criar, ou apenas querendo sair de casa de uma vez por todas, enquanto esses mesmos concursos só oferecem dez vagas. A geração passada,desfrutou de um outro cenário, uma outra configuração. Cargos emblemáticos, concursos que não fazem prova, empregos onde a beleza era o fator número um , casamento aos 25 anos de idade, ser pai aos 30, ser mãe um pouco antes. Uma casa pra morar, própria, um carro e tudo isso antes dos 40. É de profunda coerência entender que se esses são os nossos pais e os nossos tios, porque nós somos a geração da depressão. Vimos tudo isso desde criança. Crescemos nesse ambiente estruturado, que por mais instável que fosse, nada muito bizarro era visível. E o que temos hoje, é a frustração de querer fazer tudo igual, escutar que podemos fazer tudo igual. Mas não podemos. Alías, já estamos com um delay de 5 anos. A nossa geração está rompendo com toda a base de como um ser humano pode ou deve viver. Nem sempre casar é sinônimo de ter alguém. Nem sempre estar desempregado é sinônimo de acomodado. Nem sempre tatuado é sinônimo de bandido. Nem sempre não engravidar é sinônimo de frieza. Uma das gerações mais dolorosas, mais introspectivas, mais doentes. Existe um silêncio entre os jovens adultos. Existe agonia. Existe peso e falta de direção. Não é fácil ter 28 anos em 2019. Somos muitos. Embolorados numa sala de espera cercada de portas. Somos muitos nos empurrando, cotovelando, brigando, pra tirar esse lugar de perto da porta do outro. A porta abre. Há caos. Alguns entram. A porta fecha.80% continua do lado de fora. Existe tristeza aos que ficam mas ninguém vai embora. Até uma nova porta se abrir colocando mais 5 pra dentro. Enquanto isso. Silêncio. Bem vindos a geração do silêncio.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tatooed all I see, all that I am, all I will be !

Entre o dizível e o indizível se mantém a criação do poeta.A minha,flutua.Pois não gosto da grama verde,muito menos do sol brilhando.Gosto das folhas secas,da corrente fria batendo nas árvores fazendo com que mais folhas secas se joguem no chão.
Não gosto de encontros marcados,de homens amados e de histórias bem contadas.Gosto da confusão de fatos,do caos.Do amor sem juízo e logo após a solidão.
Não tenho a pretensão de contar aos meus netos,que caí do balanço quando era jovem,que fui um adolescente aplicado,que me casei e tive a mãe deles e que sorri e sempre sorri.Quero contar as coisas pelas coisas,o certo pelo incerto.O não politicamente correto,as doses demasiadas de whisky e cigarros,os caminhos tortuosos que me debati,as melhores e as piores escolhas que tomei.O sangue que se derramou,as lágrimas que contive.Os segredos pouco administrados e os medos que por mim,foram largados.
Talvez por não conter um molde da sociedade,que eu flutue.E eis que surge a grande saída:caminhar dia por dia.E por não ter esse tal molde,que possuo amizades concretas,momentos simbólicos,amores e episódios,o certo pelo certo dessa vez.Dizer o que jamais soube ser dito e viver aflito por não cumprir tal missão? Sim.Definitivamente sim ! Pois assim que nasci fiz um pacto com a vida. Um pacto simples,daquele que já viveu,que já sofreu,que já amou e que ainda assim nasceu.
Eu escrevi a minha vida e ela me escreveu.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Desfazer

E para cada incêndio eu ainda tenho um pouco de água.
Para cada inferno eu juro ainda ter um pouco de céu.
Para problemas,dores e confusões eu possuo soluções,remédios e paz.

Eu me auto soluciono.
Não preciso infelizmente de ninguém para me desfazer.
Eu me auto desfaço.

Sem ninguém ver.
Sem ninguém saber.
Eu me auto desfaço.

Com todo mundo vendo.
Com todo mundo sabendo.
Eu me auto desfaço.

Com amor ou sem amor.
Com virtude ou não.
Não leve a sério nada daquilo que falo.
Pois todo dia, eu me auto desfaço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amor sem dor.

Entre paredes e folhas me mantenho aquecida.
As janelas fechadas, as portas encostadas e o abajur aceso.
Eu começo a te chamar, mas você finge não ouvir.
Vem,sem medo,eu preciso do seu cheiro.
Preciso das suas mãos,suas costas,vem!
E assim,a porta começa a abrir,lentamente...

O silêncio se torna dono quarto.
O peso na cama começa a surgir.
Nos beijamos,nos amamos.
Corpos suados molhando o lençól assim como a tempestade molhava a rua.
Dormimos.
Não,não sonhamos.

Sorrimos.
O dia amanhece.
- Eu amo você.
- Eu também.
- Tenho que ir,vou pro trabalho!
- Tudo bem.
- Seu nome mesmo?
- Amanda,o seu é Ricardo né?
- Haha,não,Pablo. Se cuida meu amor.
- Você também!

.......................

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Navegar

A sua falta de tato
Está no seu jeito de olhar
Todos os seus sonhos quebrados
Já desistiu de encontrar

Você lamenta o passado
E não planeja o que virá
Gaguejando o presente
Com medo de se arriscar

A deriva na vida,você vai afundar!
Esse é o esquema
Você quer apostar?

A tua falta de saco
Está presente no teu olhar
Evitando aproximações
Com medo de se machucar

Acumulando vontades
Que vão sempre te perturbar
Deitado na cama
Sem força pra levantar

A deriva na vida,você vai afundar!
Esse é o esquema
Você quer apostar?

domingo, 4 de julho de 2010

Sem freio

Acelera,acelera.
Não olha para nenhum dos seus lados.Fecha os olhos,se entrega.
Acelera,acelera.
No meu carro descompassado que queima essencialmente o que está dentro.Queima alto,queima vivo,queima sem dor.
Queimaduras marcantes e saborosas.Mordidas lambidas e armadilhas doídas.
Eu quero um beijo gelado nessa cicatriz da vida. Acelera,acelera...