sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Desfazer

E para cada incêndio eu ainda tenho um pouco de água.
Para cada inferno eu juro ainda ter um pouco de céu.
Para problemas,dores e confusões eu possuo soluções,remédios e paz.

Eu me auto soluciono.
Não preciso infelizmente de ninguém para me desfazer.
Eu me auto desfaço.

Sem ninguém ver.
Sem ninguém saber.
Eu me auto desfaço.

Com todo mundo vendo.
Com todo mundo sabendo.
Eu me auto desfaço.

Com amor ou sem amor.
Com virtude ou não.
Não leve a sério nada daquilo que falo.
Pois todo dia, eu me auto desfaço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amor sem dor.

Entre paredes e folhas me mantenho aquecida.
As janelas fechadas, as portas encostadas e o abajur aceso.
Eu começo a te chamar, mas você finge não ouvir.
Vem,sem medo,eu preciso do seu cheiro.
Preciso das suas mãos,suas costas,vem!
E assim,a porta começa a abrir,lentamente...

O silêncio se torna dono quarto.
O peso na cama começa a surgir.
Nos beijamos,nos amamos.
Corpos suados molhando o lençól assim como a tempestade molhava a rua.
Dormimos.
Não,não sonhamos.

Sorrimos.
O dia amanhece.
- Eu amo você.
- Eu também.
- Tenho que ir,vou pro trabalho!
- Tudo bem.
- Seu nome mesmo?
- Amanda,o seu é Ricardo né?
- Haha,não,Pablo. Se cuida meu amor.
- Você também!

.......................

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Navegar

A sua falta de tato
Está no seu jeito de olhar
Todos os seus sonhos quebrados
Já desistiu de encontrar

Você lamenta o passado
E não planeja o que virá
Gaguejando o presente
Com medo de se arriscar

A deriva na vida,você vai afundar!
Esse é o esquema
Você quer apostar?

A tua falta de saco
Está presente no teu olhar
Evitando aproximações
Com medo de se machucar

Acumulando vontades
Que vão sempre te perturbar
Deitado na cama
Sem força pra levantar

A deriva na vida,você vai afundar!
Esse é o esquema
Você quer apostar?

domingo, 4 de julho de 2010

Sem freio

Acelera,acelera.
Não olha para nenhum dos seus lados.Fecha os olhos,se entrega.
Acelera,acelera.
No meu carro descompassado que queima essencialmente o que está dentro.Queima alto,queima vivo,queima sem dor.
Queimaduras marcantes e saborosas.Mordidas lambidas e armadilhas doídas.
Eu quero um beijo gelado nessa cicatriz da vida. Acelera,acelera...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O doce do chocolate

E eu que já me fechei por causa dos medos criados hoje me abro ao tudo de novo e ao mais uma vez.Meus desejos infantis renasceram como uma explosão sensitiva.
O chocolate voltou a ter o mesmo gosto.Os desenhos são engraçados.Chorar,só por coisa boba,coisas que não envolvam sentimento.Quero juntar dinheiro para comprar o meu próprio avião e receber o óscar com um vestido vermelho.
As bonecas e os ursinhos espalhados pelo quarto voltaram a sorrir para mim,um sorriso largo e com dentes brancos.Cada dia eu escolho o que está sorrindo mais forte para dividir a cama comigo ou até mesmo assistir um filme.
Voltei a achar graça nas pequenas reuniões, nos livros mais finos e ilustrados e tudo ficou tão doce... A seriedade da vida e o peso da idade às vezes nos corrompem e nem percebemos,perdendo assim o mais digno da vida e o mais sincero que é ser feliz, integralmente feliz.
O tempo nos torna pessoas movidas a grandes alegrias e a grandes tristezas enquanto em si somos felizes e nem reparamos.Curtir a vida em pequenos pedaços é saborear cada ingrediente da sobremesa,calibrar lentamente a gasolina do gostoso,do prazeroso.Ao contrário de engoli-la de uma vez, e tornar aquilo um choque de alegria mas tão rápido, tão efêmero.
Não temos mais paciência de sermos felizes,queremos ser alegres.Queremos o máximo sempre e quando caímos choramos de dor,choramos de medo e nos fechamos, como eu já me fechei.
Crianças só correm,se machucam e acham graça. Se machucam e correm mais ainda...
As feridas marcam os seus corpos formando uma coleção de cicatrizes.E ainda assim elas correm,sorrindo e felizes.

Tudo por causa do chocolate...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A única maça podre

Vamos curtir o exagero e bater palmas para o excesso.
Abraçar o horizonte e ainda restar espaço para um novo companheiro.
Vamos nos merecer,saborear,cultivar o tão pouco cultivado.
Vamos ser extremistas,ataques de loucura são sempre bem vindos em minha casa ...
Vamos ser e não ser.
Instável e pouco amado.
Banal e querido.
Bandido e mocinho.
Morador e vizinha...
Sejam tudo isso,por favor, para que eu não me sinta sozinha.

domingo, 13 de junho de 2010

Pra que fingir que amou ?

Pra que fingir todo esse amor?
Ninguém ama depois de tanta dor... Um otário,coitado,perdido no asfalto.Sem rumo e sem prazo,talvez sim.
Um jeito maluco de dizer que está apaixonado.De dizer que são os melhores dias das suas vidas.Os presentes mais carinhosos e mágicos baby.
Não,não serão os seus dias mágicos!
A vida nunca foi tão graciosa assim ...
Nunca pra mim, por que pra você ?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Muito amor

Você,é algo assim
Um peso pra mim
Como um pesadelo,baby.

Você,é mais que um clichê
Mais nada a ver
Bem menos que eu esperava,baby.

Tá feliz,agora?
Eu vou nessa, vou embora,sim.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A mesma casa

Me lembro de que quando eu era criança as salas eram salões as portas eram portões e as casas eram castelos.Tudo era tão grande naquele meu universo tão singelo.
Hoje as casas viraram casebres,os portões quase me abraçam de tão justos ao meu corpo.E as salas são compactas a minha visão.
Eu deixei tudo ficar pequeno.Infelizmente tudo diminuiu.
Era tão bom achar as coisas imensas,plenas,como mares que beiram o horizonte.
A culpa foi minha de ter deixado isso. Quando me dei conta,eu já estava grande demais para certas paisagens enquanto deveria estar ainda pequena para poder deliciar mais,os grandes sonhos que os lugares reservavam.
A culpa foi minha.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O poeta está vivo

Caçando as alegrias escondidas e escondendo as dores assim perdidas,pergunto-me a qual vitória mereço o prêmio.A de viver do luxo de ser feliz ou ser um mero mágico aprendiz?
Transformo dor em alegria,amor em dor.Choro com palmas e palmas são irônicas para mim. Sou um bicho complexo eu confesso. Com um pé atrás com os que me querem bem, pois as rosas não falam, nem mal nem bem.
Não tenho virtudes,nem sabores, sou um cachorro vagabundo que vive do cheiro da noite e grandes amores. Passageiros e defeituosos. Sou a última gota da garrafa, a última mesa a ser retirada com a porta fechada.
Tenho meus sonhos irreais,banais,carnais,canibais... E vivo! Nesse rosto marcado pela vida,nessas mãos indócis a falar.
Minha gratidão é possuir a minha essência.O que concretiza a minha tese de que possuo alma de poeta e isso definitivamente dura muito mais do que uma mera aparência.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Por você vou roubar os anéis de saturno .

- Mas por que você tá gritando ?
- Porque eu tô com ódio de você cara. Sabe o que é isso ? ÓDIO ?
- Você definitivamente é maluca. Louca, pirada, lélé.
- Então vai embora antes que eu agarre na sua orelha e arranque um pedaço.
- Aaah agarra !!!
- Sem piadas por favor, o momento não é propício.
- Eu ia gostar se você arrancasse um pedaço. Mas pequeno, por favor.
- Tá. Foda-se !
- Linda.
- Babaca!
- Gostosa!
- Idiota.
- Te amo tanto sabia ?
- ...
- Sabia ou não sabia ?
- Me dá um beijo logo seu estranho.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O início de uma história ainda sem fim

O termômetro marcava menos dezoito. O relógio badalava avisando o começo de um novo dia. Na cidade, só a intensa fumaça que saía das chaminés dos pequenos casebres. A neblina e a fumaça se misturavam formando uma parede completamente palpável. Do alto, só se via um colchão branco, fofo e macio que fazia com que a cidade parecesse estar mergulhada em nuvens.
A singela paisagem era o que Walter observava todos os dias da sua casa, no pico da montanha. A casa se destacava de todo o resto porque além da sua localização peculiar, sua estrutura de castelo, com um enorme lago na frente, grandes portões e uma solitária janela no último andar serviam para a criação de misteriosas e aterrorizantes histórias que rondavam a boca do povo, em bares e em cantigas de escola. Walter morava sozinho e tinha quatro gatos que perambulavam os quatro andares da casa. Sua história era complicada. Aos 20 anos perdeu seus pais e seus três irmãos para a segunda guerra mundial. Porém, por incrível que pareça, contava friamente sobre o assunto aos que perguntavam.
Walter aprendeu a se virar sozinho e sozinho ele continuou a viver. Guardava consigo memórias da família. Seu pai era um militar eminente, disciplinado, e o ensinou a atirar desde pequeno. Aos dez anos Walter acertava as últimas folhas do galho com uma precisão de amedrontar qualquer militar e que ao mesmo tempo promovia um sorriso nitidamente orgulhoso na face do mestre. Seu pai dizia possuir um tesouro escondido na casa e sempre dava algumas pistas para Walter tentar achá-lo. No entanto, ele nunca conseguiu, pois as pistas eram entregues de pouco a pouco, a cada mês, a cada ano e com a morte da família ele estagnou provavelmente na metade do caminho. Sua mãe era forte, possuía uma voz de comando, alta e grossa. Quem ouvia de longe às vezes até confundia o grito dela com o do pai.
Não possuía grandes amigos além dos gatos. Preferia mais observar do que propriamente falar. E foi em uma conversa de bar que toda a história surgiu. Eu era apenas um garçom que atendia-o todas as noites por volta das sete horas da noite, mas nesse dia Walter estava com os olhos secos me lembro. A boca rachada do frio,as botas desamarradas e as mãos duras que nem uma madeira.
Ele se sentou e ficou por uma meia hora ali sentado,parado.Foi quando eu perguntei intrigado :
- O que o senhor deseja ?
- O prato da casa. Palavras envenenadas e ríspidas com uma pitada de desejo, sem açúcar... Sente-se, por favor.


Cap 1 - O prato da casa
Úrsula Castro

Bukowski me entende ...

"você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida com
muito pouca
fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o
sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles
estão lá ...

e eu estou aqui."


Charles Bukowski .

Ele resumiu tudo. E hoje, merece o espaço aqui .

domingo, 16 de maio de 2010

Solos de guitarra não vão me conquistar .

Quando ele olha,parece
Que tudo se congela e que só ele pisca.
E quando pisca meu coração bate
Na mesma hora, sem atrasos.


Quando ele fala o que quer que seja
Sua voz é a mais alta, mesmo sendo um sussurro.
Teu sorriso é uma explosão.
A mais bela que já vi.


Tudo está mais intenso,mais vivo e com mais prazer.
A chuva criou cor,as palavras viraram livros.
O amor é um doce.
O doce do vício.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Dias sim , dias não ...

E eu vou sobrevivendo sem nenhum arranhão!

Seria mais prático acreditar no futuro premeditado,no mapa já traçado ou no que o horóscopo me alertou. Mas sabe,apesar das feridas que carrego causadas pelas diversas surpresas do destino,carrego junto coroas! Coroas brilhosas e reluzentes que pra quem olha de longe acha que é um trófeu.E eu, sinceramente também acho.
O destino incerto é como se fosse renascer todo dia. E o engraçado é que mesmo sabendo que nada vai ser aquilo que nós estamos pensando, ainda teimamos em traçar o que não pode ser traçado. A verdade é que gostamos de nos iludir em uma realidade fútil e infantil que as nossas cabeças tolas e sonhadoras nos deixam levar.
Seria essa a graça do destino incerto? A nossa teimosia perante a ele? Ou seria na verdade uma forma de obsessão em sermos sempre donos de si?

terça-feira, 11 de maio de 2010

Bota no espelho.

Folhas rasgadas,mentiras apagadas.
Amor sem virtude e desejo sem calma.
Já não sei mais o que é sorrir ou aceitar.
Apagar as luzes e ver o sol raiar.


Guardei os meus versos em um pequeno armário.
Hoje em dia só vejo apenas o cenário.
Cadê os versos ? Cadê o armário ?


Eu inventei tudo.Tudo ao contrário.

domingo, 9 de maio de 2010

Bobeira é não viver a realidade ...

As mudanças que sempre tão necessárias nos proporcionam a sensação do vazio e do tudo de novo.A largada,o começo. Só o vento batendo no rosto e as tantas perguntas que se fundem em nenhuma pergunta.Uma serenidade tão plena de espírito que pareço estar cobrindo com dez cobertores os meus sentimentos aguçados.
A palavra mudança em si se concretiza e se materializa em minha cabeça na forma de um portão com flores,árvores vivas e verdes que dançam ao ritmo do vento.Não vejo escuridão,solidão,medo,receio. Não,não vejo.
Acredito na sorte das coisas. No improvável correto e na arte pela arte. E talvez por esse meu sonho insaciável ser puramente insaciável que eu corra contra o tempo com medo de que algum dia ele não corra mais atrás de mim. E que a maior das frustrações seja catá-lo arduamente,a cada esquina,a cada idéia e não o mais encontrar.
Prefiro acreditar no coração das escolhas e na essência das coisas. Sou muito mais essência do que hábito.Muito mais bússola quebrada e direção do vento do que bússola indicando o Norte ou Sul.
Prefiro acreditar que estou fazendo e não apenas sonhando.Não só escrevendo como atuando a minha própria vida. Acreditar que estou me achando! E se não estiver,que eu me perca então! Me achar nunca foi uma prioridade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Todo dia é hoje.

Hoje eu acordei com calor com malícia,com amor com carícias,com verdades e mentiras.
Hoje eu sonhei com um chão sem asfalto,com abajur desligado e risadas pro alto!
Hoje eu trabalhei como se fosse pra ganhar, ganhar o já usado, as flores e os cravos.
Hoje eu corri sem ter despedida, agarrei a minha vida e do seu pé não vou soltar.
Hoje é sexta-feira,dia de bebedeira.Bem,eu sou suspeita, mas hoje É sexta-feira!
Hoje eu acordei com a mão no mundo e o mundo na mão, com apenas o sim e nada de não!
Hoje eu sou fiel a todos os meus sentimentos, aos grandes momentos e aqueles que vão passar.
Hoje eu me prometi amar por um segundo, ser feliz pra Deus e o mundo porque nada será capaz de me abalar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Risadas

Já acreditei em um momento. Hoje em dia acredito em vários.
Porque nos olhos que vejo sinto equilíbrio. Não mental,muito menos formal. Equilíbrio de almas eu diria.Em assuntos paralelos ou problemas diversos eu recorro a você. E muitas vezes sem saber o que dizer,você ri. E logo após eu também .
Já nos perguntamos dos nossos tons de risadas e ainda espero ver os de ameaça.
Não quero entender o porque disso tudo.
O mundo dá voltas meu camarada!
E quem viveu,viveu. A vida é esse ciclo e mais nada .

domingo, 2 de maio de 2010

Hábitos

Eu acordei,ele acordou,ela acordou em um dia nublado.
Eu levantei,ele ficou,ela continuou em uma cama macia.
Eu me arrumei,ele dormiu,ela pensou em alguma poesia.
Eu trabalhei,ele dormiu,ela pensou em alguma poesia.
Eu comi,ele dormiu,ela pensou em alguma poesia.
Eu vi televisão,ele dormiu,ela pensou em alguma poesia.
Eu dormi,ele acordou,ela levantou.
Eu dormi,ele dormiu,ela escreveu.
Eu dormi,ele dormiu,ela rasgou.
Eu acordei,ele acordou,ela dormiu.


Úrsula Castro

sábado, 1 de maio de 2010

Caramba , não !

Não,não,não . Eu já não quero mais tentar,desistir de ser feliz pra tentar se aventurar? E do que a vida vale nesse esquema de abalar, se você não faz jus ao seu sistema de amar!
Não,não,não . Eu já não quero mais sofrer,passar por essa vida e ter medo de perder? Eu prefiro ser fiel com aquilo que já tenho e depois viver do resto,do resto que desdenho.
Não,não,não . Eu já não quero mais amar,a vida é muito curta pra eu poder desperdiçar .
Um gesto bem singelo, de carinho bem sincero, eu te peço meu amor, por favor, eu não quero!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma morte parcial

Meu suor fazia uma cachoeira sobre aquele papel, todo o calor que o sol emitia estava sendo absorvido pela roupa preta que usávamos. Era um absurdo, tantos dias fresquinhos e justo no que eu to vestido todo de preto, faz um sol de quarenta graus. Nunca fui fã de enterro, pelo contrário, desde criança sempre arranjei uma desculpa pra não ir. Ambiente pesado, pessoas chorando, e ainda por cima com essa maldita roupa preta. Sem contar esses papeizinhos que eles nos dão para acompanhar o padre, enquanto ele fala (detalhe que ninguém presta atenção no que ele realmente está dizendo, mas ao ouvirem a voz dele,seja ela qual for, disparam a chorar).
Roberto era nosso colega de trabalho e faleceu ao ver que suas dívidas equivaliam ao triplo daquilo que ele ainda estava juntando. Seu coração sempre foi fraco, era diabético e tinha um histórico recheado de pessoas que enfartaram na família. Ao receber a conta, Roberto não resistiu.
Sorte, que ele não possuía filhos ainda, e nunca tinha sido casado. Roberto era muito aplicado no trabalho e achava bobagem essas historinhas de pai de família.
Com certeza depois daquele dia a empresa nunca mais foi à mesma, não que ele fosse bem humorado, pelo contrário, era raro você ver um sorriso no rosto de Roberto. Mas apesar disso, sabíamos que ele era uma boa pessoa e que não fazia isso por mal, era o jeito dele mesmo. Lá no fundo da sala era onde ele passava vinte e três horas do seu dia se não às vinte e quatro. Ali, tinha um computador, algumas canetas e papéis, uma mesinha, e um pequeno abajur. Era o suficiente para surgirem grandes projetos, que com certeza, seriam os melhores.
A empresa teve um prejuízo enorme com a perda de Roberto. Ele era a cabeça chefe, era quem criava,explicava e finalizava. Já estava vendo a hora de tudo aquilo ir por água abaixo, até que fomos avisados de que ocorreria uma substituição, e nesse caso, eu entraria no lugar dele. Confesso que de início achei estranho e um tanto quanto desafiador. Sentar-se à mesa em que Roberto sentava pegar na caneta de Roberto, foram mais difíceis do que eu imaginava. Mas de acordo com o tempo fui esquecendo todas essas paranóias e fui fazendo meu trabalho. Estudei muito para tentar chegar aos pés do que ele fazia, mas ó, ta difícil. Graças a Deus consegui recuperar o nome da empresa, que já estava indo de mal a pior. Os sorrisos e as pessoas falando tranquilamente voltaram a fazer parte da nossa rotina.
De pouco em pouco parece que tudo está voltando ao normal. Tenho um carinho enorme por todos nesse trabalho. Talvez eu não percebesse tanto isso, mas foi quando eu mais precisei que eles estavam lá, dizendo um gentil “você consegue”. Grande parte do que consegui, agradeço segundamente a eles, com certeza.
Primeiramente agradeço a Roberto, por ter me incentivado e me forçado a melhorar. Sabe, às vezes não precisamos que pessoas fiquem nos falando isso, no caso de Roberto era uma questão de honra tentar manter um padrão que ele sempre tentou manter, com dedicação e vontade.
Na salinha que era dele, e que agora é minha, tinha uma cafeteira também, que eu nunca encostei o dedo (tenho alergia a café), mas que Roberto amava. Às vezes sabíamos que ele tinha chegado, pelo cheiro do café.
Tenho certeza que Roberto deve ta me vigiando em um outro lugar, vendo se eu to fazendo tudo direitinho. Afinal mesmo eu sabendo que eu nunca vou tomar café, e que nunca ninguém do trabalho, entra na minha sala sem pedir permissão, a cafeteira nunca parou de fazer aquele café, nenhum dia. Deixando o mesmo cheiro que sempre deixou. Vai entender...


Úrsula Castro

quarta-feira, 28 de abril de 2010

No more .

De certa forma ela não queria mais dizer, mas as suas perdas e as suas vitórias se fechavam em um quarto escuro, muito pouco visitado . Do jardim ela olhava aquela pobre janela , envelhecida , empoeirada , assustadora e irremediavelmente fechada.
Seu sonho era sair do lado de fora e ir de vez abrir aquela maldita porta . Ou então tacar uma pedra na janela,deixando que o ar leve,vivo e claro renovasse o clima denso , denso e frio daquele quarto .

Ela esperou por meses , anos , vidas ...
Foi quando enfim , levantou do balanço e pegou a primeira pedra , a maior de todas do jardim .
Sem pensar duas vezes arremessou diretamente na janela ...
O silêncio decepcionou , a mágoa alertou . Já não havia mais casa , nem janela , nem pedra , nem ela ...
O tempo trancou a porta e o sonhos ficaram nela .


Úrsula Castro

terça-feira, 27 de abril de 2010

E a receita se perdeu ...

Eu sou do tempo do cinematógrafo, uma espécie de ancestral da filmadora,onde 40 minutos de projeção eram bastante complicados. Eu sou do tempo dos grandes nomes como, Max Linder que mais tarde inspiraria Charles Chaplin, o primeiro tipo cômico, Louis Feuillade com o “Fântomas”, primeiro seriado policial e Antônio Leal com “Os estranguladores”. Eu gostava do cinema mudo, me deixava curioso e instigava a minha imaginação. Lembro-me perfeitamente que eu voltava para casa tão maravilhado, que sonhava com as possíveis falas de cada personagem.

Eu vi Hollywood surgir, e junto dela seus famosos Anos Dourados. Eu vi Casablanca, Nosferatu, Drácula, Frankenstein, E o vento levou, O maravilhoso mágico de Oz, todos os clássicos da disney, Alô Alô Carnaval dentre milhares de outros...

Hoje em dia já não vejo quase nada , a não ser clone dos clones , paisagem das paisagens , amor dos amores , eu digo , a falta de originalidade ! Um delírio meu ou pura vaidade ?


Úrsula Castro