terça-feira, 18 de maio de 2010

O início de uma história ainda sem fim

O termômetro marcava menos dezoito. O relógio badalava avisando o começo de um novo dia. Na cidade, só a intensa fumaça que saía das chaminés dos pequenos casebres. A neblina e a fumaça se misturavam formando uma parede completamente palpável. Do alto, só se via um colchão branco, fofo e macio que fazia com que a cidade parecesse estar mergulhada em nuvens.
A singela paisagem era o que Walter observava todos os dias da sua casa, no pico da montanha. A casa se destacava de todo o resto porque além da sua localização peculiar, sua estrutura de castelo, com um enorme lago na frente, grandes portões e uma solitária janela no último andar serviam para a criação de misteriosas e aterrorizantes histórias que rondavam a boca do povo, em bares e em cantigas de escola. Walter morava sozinho e tinha quatro gatos que perambulavam os quatro andares da casa. Sua história era complicada. Aos 20 anos perdeu seus pais e seus três irmãos para a segunda guerra mundial. Porém, por incrível que pareça, contava friamente sobre o assunto aos que perguntavam.
Walter aprendeu a se virar sozinho e sozinho ele continuou a viver. Guardava consigo memórias da família. Seu pai era um militar eminente, disciplinado, e o ensinou a atirar desde pequeno. Aos dez anos Walter acertava as últimas folhas do galho com uma precisão de amedrontar qualquer militar e que ao mesmo tempo promovia um sorriso nitidamente orgulhoso na face do mestre. Seu pai dizia possuir um tesouro escondido na casa e sempre dava algumas pistas para Walter tentar achá-lo. No entanto, ele nunca conseguiu, pois as pistas eram entregues de pouco a pouco, a cada mês, a cada ano e com a morte da família ele estagnou provavelmente na metade do caminho. Sua mãe era forte, possuía uma voz de comando, alta e grossa. Quem ouvia de longe às vezes até confundia o grito dela com o do pai.
Não possuía grandes amigos além dos gatos. Preferia mais observar do que propriamente falar. E foi em uma conversa de bar que toda a história surgiu. Eu era apenas um garçom que atendia-o todas as noites por volta das sete horas da noite, mas nesse dia Walter estava com os olhos secos me lembro. A boca rachada do frio,as botas desamarradas e as mãos duras que nem uma madeira.
Ele se sentou e ficou por uma meia hora ali sentado,parado.Foi quando eu perguntei intrigado :
- O que o senhor deseja ?
- O prato da casa. Palavras envenenadas e ríspidas com uma pitada de desejo, sem açúcar... Sente-se, por favor.


Cap 1 - O prato da casa
Úrsula Castro

Nenhum comentário:

Postar um comentário